Fátima Monteiro, dirigente da Comissão Instaladora da Fundação Antigo Liceu Gil Eanes, revela em entrevista ao asemanaonline os objectivos dessa entidade que visa ajudar o desenvolvimento de Cabo Verde. Na mira dos seus objectivos mais imediatos a Fundação organiza este sábado, 06, no Teatro São Luiz, em Lisboa, um espectáculo com Titina para angariação de fundos. A FALGE será formalizada a 27 de Julho em S.Vicente.
Por Otília Leitão
OL: Quais são os obectivos da Fundação Liceu Gil Eanes?
FM: A Fundação irá centrar a sua acção em quatro áreas que consideramos prioritárias para Cabo Verde. Essa acção terá carácter: 1. Educativo, promovendo cursos de formação, seminários e conferências abertas ao público, 2. Científico, apoiando a investigação em áreas de interesse prioritário para Cabo Verde, 3. Artístico, apoiando criadores no campo do audiovisual, música, dança e artes plásticas e 4. Social, apoiando jovens e idosos das camadas mais carenciadas da população.
OL: Sabendo-se que a Fundação teve a sua génese no núcleo fundador a partir de Portugal, como serão coordenadas as suas actividades e como será a sua estrutura?
FM: Na verdade, a Fundação tem a sua génese em Cabo Verde, pois a ideia da sua criação surgiu no contexto do 1º Encontro de Antigos Alunos do Liceu Gil Eanes, que se realizou em S. Vicente entre finais de Julho e inícios de Agosto de 2006. Foi nessa altura que se começou a projectar, ainda que de forma muito embrionária, uma estrutura institucional que pudesse, por um lado, dar continuidade aos encontros de antigos alunos do Liceu Gil Eanes – em S. Vicente, uma vez que era em S. Vicente que o Liceu Gil Eanes tinha sede – e pudesse, por outro lado, cultivar a memória do LGE e ajudar a preservar os valores, ou se preferir os ensinamentos, que doou à sociedade cabo-verdiana.
Como é evidente, não pretendemos limitar-nos a isso, pois não nos move um sentimento saudosista. Pretendemos também que a Fundação possa servir como um veículo de transmissão de valores novos, mais próprios do tempo em que vivemos. Valores como por exemplo a aceitação da diferença, a aceitação da ideia de que a autoridade advém do conhecimento e não só da maturidade (madura idade), a maior exigência de rigor e fundamentação no debate, o reconhecimento do direito ao espírito de iniciativa e de escolha por parte dos jovens, a equidade de género, etc. Todos estes valores foram sendo introduzidos aos poucos na sociedade cabo-verdiana, muitas vezes por influências vindas de fora, e são mais condizentes com uma sociedade que se vai modernizando e abandonando alguns dos preceitos e preconceitos menos positivos das sociedades tradicionais.
Quanto à sua estrutura, a Fundação terá os pelouros correspondentes às quatro áreas a que me refiro acima. Procurar-se-á que à frente de cada um deles estejam as pessoas mais habilitadas que conseguirmos recrutar.
OL: Será uma fundação que reúne os melhores cérebros cabo-verdianos na diáspora? Quantos núcleos tem? Podem-se já contabilizar as pessoas que aderiram a esta instituição? Está aberta a todos quantos queiram entrar? De que modo?
FM: A Fundação irá lançar mão de todos os recursos humanos ao seu alcance, dentro e fora de Cabo Verde, para cumprir a sua missão de apoiar o desenvolvimento educativo, científico, artístico e social de Cabo Verde. É verdade que, sob um ponto de vista estatístico, há mais “cérebros” na diáspora do que em Cabo Verde, até porque a definição de “cérebro” está directamente ligada à formação avançada. O número de licenciados, mestres e doutorados cabo-verdianos radicados fora de Cabo Verde é muito superior ao número dos que estão em Cabo Verde, particularmente se tivermos em conta os caboverdiano-descendentes de várias gerações. Mas como a sede da Fundação será em Cabo Verde, é natural que uma maior percentagem dos quadros residentes esteja envolvida no dia-a-dia da instituição. No entanto, procuraremos tirar o máximo partido das tecnologias de informação, mormente da Internet, para facilitar a participação dos que se encontram fora.
Para agilizar os trabalhos da Comissão Instaladora foram criados três núcleos, um em Cabo Verde, um em Portugal e outro nos Estados Unidos, cada um deles com uma responsabilidade principal específica. O núcleo de Cabo Verde ficou com a responsabilidade de fazer um levantamento e elaborar um plano de recuperação do acervo do Liceu Gil Eanes, o núcleo de Portugal ficou com a responsabilidade de preparar futuras parcerias institucionais e angariar fundos e sócios junto ao meio empresarial, e o núcleo dos Estados Unidos ficou com a responsabilidade de angariar fundos junto a antigos alunos e outros simpatizantes do projecto. Já a angariação de sócios junto a antigos alunos, professores e pessoal do LGE é incumbência geral de todos os núcleos. Neste momento podemos contabilizar à volta de 150-200 aderentes. Mas só teremos uma noção mais exacta dos números depois da realização do 2º Encontro de Antigos Alunos do Liceu Gil Eanes na última semana de Julho em S. Vicente.
Podem ser membros da Fundação antigos alunos, professores e pessoal do quadro administrativo e auxiliar do antigo Liceu Gil Eanes. Até ao momento, enviámos pedidos de adesão (via correio postal e electrónico) a mais de mil pessoas. Temos conhecimento de que à medida que vão recebendo os pedidos de adesão vão passando a palavra a outros que não os receberam, pelo que imaginamos que a mensagem tenha já chegado à maioria dos potenciais membros. Entretanto deixo aqui o endereço de e-mail para onde poderão ser enviadas pedidos de informação, adesão e inscrições no 2º Encontro de Antigos Alunos do Liceu Gil Eanes: gileanistas.cv@gmail.com
OL: Cabo Verde está a atravessar novos desafios extra-fronteiras, nomeadamente a criação de parcerias mais sólidas que lhe permitam prosseguir o seu desenvolvimento. A fundação pode ser impulsionadora e divulgadora destes desígnios ou corre o risco de ser mais uma instituição, onde os seus representantes se passeiam pelo mundo?
FM: A Fundação não pretende (nem poderia) substituir ou interferir com as competências que são próprias do Estado. Procurará funcionar como um catalisador de energias no seio da sociedade civil cabo-verdiana e das comunidades no exterior, e canalizar essas energias para projectos de carácter cívico, educacional, social e científico. Tendo a Fundação a sua sede e estando centrada a sua acção em Cabo Verde, não creio que haja a necessidade de os seus dirigentes andarem a “passear pelo mundo”, embora reconheça que alguma mobilidade será indispensável. Dito isto, sublinharia que os seus fundos (a serem obtidos através de doações) e as suas receitas (a serem obtidas através da prestação de serviços á comunidade), terão de ser geridos de forma extremamente criteriosa e seguindo o preceito de que os gastos de funcionamento deverão ser reduzidos ao mínimo indispensável. Só assim poderemos garantir o financiamento dos projectos que nos propomos desenvolver e a sustentabilidade da instituição.
OL: Num comunicado divulgado no ano passado referia-se que a sede será no edifício do antigo Liceu Gil Eanes, conhecido por Liceu Velho. Como vão organizar as obras necessárias a recuperação deste espaço adequado aos objectivos da Fundação?
FM: Efectivamente, vimos negociando com a Reitoria da Universidade de Cabo Verde, que tem a posse do edifício e onde funciona, aliás, o departamento de Ciências Sociais e Humanas da UNICV, a cedência de um espaço para a instalação da Fundação. Podemos dizer que existe um “acordo de cavalheiros” nesse sentido entre a UNICV e a Comissão Instaladora da Fundação. A recuperação do edifício e o respectivo projecto, que ao que nos foi indicado já foi elaborado, é no entanto da integral competência da UNICV. A Comissão Instaladora da Fundação ofereceu como contrapartida à cedência de espaço para as suas instalações apoiar materialmente a UNICV na recuperação do edifício. Posso adiantar que o espaço em vista para a instalação da Fundação corresponde ao que foi a antiga Secretaria do Liceu Gil Eanes. É um espaço com uma área razoável, com grande potencial para se adaptar às necessidades da Fundação, e com entrada autónoma para o edifício.
OL: Considera que as regras estão já muito claras bem como a definição dos seus objectivos?
FM: As regras e os objectivos estão traçados com bastante clareza em meu entender na proposta de estatutos da Fundação. A proposta encontra-se no entanto ainda a discussão, podendo por conseguinte sofrer alterações. Está acessível através do blog da Comissão Instaladora em http://www.faalge-ci.blogspot.com/ , onde poderão ser lançados directamente comentários, adendas e contrapropostas. A versão final da proposta será submetida a votação na Assembleia Constitutiva da Fundação, marcada para 26 de Julho no Palácio da Justiça em S. Vicente.
OL: Já foram organizados vários eventos destinados à angariação de fundos. As pessoas têm correspondido? Como será este novo acontecimento no Teatro São Luíz?
FM: Como referi no início, a responsabilidade de angariação de fundos ficou fundamentalmente a cargo ao núcleo de Portugal. Assim, para maior transparência na prestação de contas, em inícios de 2008 o núcleo foi registado em Lisboa como Entidade Equiparada, no Registo Nacional de Pessoas Colectivas. Depois disso estabeleceu um plano de angariação de fundos com duas vertentes, a vertente de angariação junto a empresas e a vertente de angariação através de actividades culturais e recreativas. A angariação de fundos junto a empresas, na sua esmagadora maioria cabo-verdianas, teve início em Agosto de 2008, em Cabo Verde.
Reunimo-nos nessa altura com membros do Conselho de Administração de praticamente todas as grandes empresas cabo-verdianas, incluindo a banca. As reacções foram e continuam a ser bastante positivas, mas estamos ainda em processo de negociação. Dispomos no entanto de informação suficiente para acreditar que à data da sua oficialização já teremos garantido um fundo inicial suficiente para lançar a Fundação.
O programa de angariação de fundos através de actividades culturais e recreativas incluiu dois jantares, o primeiro mais restrito, em Cascais, em que participou um pequeno grupo de individualidades cabo-verdianas e portuguesas, o segundo já com uma dimensão expressiva, no Casino do Estoril, que contou com a participação de cerca de 300 pessoas. Tentámos organizar um Baile de Carnaval, mas a concorrência nessa altura era muito grande e não resultou.
O programa das actividades irá encerrar com uma Tarde Cabo-Verdiana com “Titina”, no Teatro São Luíz em Lisboa. Será no próximo Sábado, dia 6 de Junho. O espectáculo terá início às 17h. Depois da actuação da Titina será servido um lanche cabo-verdiano, a que se seguirá dança com DJ até às 22h. Já não temos muitos bilhetes disponíveis, pelo que recomendaria aos que quiserem participar que adquiram o seu bilhete o quanto antes. Os bilhetes estão à venda na bilheteira do Teatro São Luíz. Nesta altura já não estamos a aceitar reservas. Para mais informações os interessados poderão contactar-nos por email para gileanistas.cv@gmail.com ou por telefone para (+351)966381885.
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